O que seria de nós sem as nossas janelas neste confinamento?
Em poemas, vídeos, filmes e apresentações musicais, elas se tornaram as protagonistas da quarentena
 
									Tenho pensado nas janelas e seus significados em tempos de Covid-19. Desde que essa pandemia começou, as janelas se tornaram protagonistas da nossa existência. Separam o lado de dentro do lado de fora, mas, ao mesmo tempo, permitem que esses dois mundos se encontrem. A janela é o lugar que tem nos permitido uma mínima conexão com o que ainda existe lá fora. E me dou conta de como elas se tornaram importantes.
 
    Cora Coralina via a beleza do mundo a partir da sua janela, na cidade de Goiás. Era por ali que o circo passava, que as coisas aconteciam, como ela conta em tantos poemas. Adélia Prado, a mesma coisa. Em “Janela”, a mineira transforma esse objeto do cotidiano em pura poesia. Quanta atualidade em Adélia Prado e Cora Coralina!
De repente me pego cantando “Da janela lateral, do quarto de dormir, vejo uma igreja, um sinal de glória, vejo um muro branco e um voo pássaro, vejo uma grade, um velho sinal...”. É a primeira estrofe de “Paisagem da Janela”, sucesso na voz do mineiro Lô Borges. Essa canção ressurgiu agora em uma dessas conexões que só a quarentena tem permitido e chega renovada na forma de um projeto superbacana que o cantor lançou em meados de abril.
O resultado foi esse vídeo colaborativo, emocionante, em que Lô Borges interage, a partir da sua música, com pessoas do mundo. Foram cerca de quatro mil registros de fotos e vídeos enviados de 26 estados brasileiros e 23 países. Anônimos e famosos, como Zeca Camargo e Rogério Flausino, mostram as paisagens de suas janelas e cantam a música de Lô Borges com Fernando Brant que marcou o movimento Clube da Esquina (#dajanelalateral).
Pensando ainda nas nossas janelas, me surpreendo com as manifestações políticas e as apresentações musicais que têm animado a vizinhança desde que entramos em quarentena. Não apenas aqui, mas no mundo, o compartilhamento a partir das varandas e janelas tem nos mostrado que ainda há solidariedade entre seres humanos.
Outro dia foi aqui pertinho de onde eu moro, em Laranjeiras, com o projeto “Som na Janela”. O saxofonista Diogo Acosta tocou para a plateia de vizinhos “Tristeza”, sucesso nas vozes de Jair Rodrigues e de Beth Carvalho. Em Copacabana, Marcelo Cebukin, e a atriz Tatyane Meyer surpreenderam com Cidade Maravilhosa. E teve Thales Browne, com Canto das Três Raças, de Clara Nunes, na Barra da Tijuca.
Tem também as janelas do cinema. “Janela Indiscreta”, de Hitchcock, é um clássico para ser revisto a toda hora. E “Janela da Alma”, de João Jardim e Walter Carvalho, em que entrevistados diversos, como o escritor José Saramago e o cineasta Wim Wenders, nos presenteiam com reflexões sobre o olhar e a vida.
 
    Enquanto escrevo, a palavra leveza surge repetidamente nas minhas referências, seja no vídeo do Lô Borges, no projeto Som na Janela ou no documentário que fala sobre a cegueira. E penso como estamos precisando disso! Da minha varanda, olho à frente e percebo em tempos tão difíceis: que bom que ainda temos as nossas janelas!
Rita Fernandes é jornalista, escritora e pesquisadora de cultura e carnaval.
 
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