Covid-19: o que você precisa saber para prevenir o contágio
Em tempos de férias, é confiável fazer o exame para detecção do novo coronavírus? Saiba como funcionam os diferentes tipos
Com o período de festas de fim de ano e a proximidade das férias, a procura por testes para a detecção de infecção pelo SARS-CoV-2, o vírus responsável pela Covid-19, aumentou consideravelmente. Na maioria, são pessoas que querem fazer o teste para se assegurarem que poderão estar com outras pessoas de maior risco, como idosos, obesos e portadores de doenças crônicas, com a tranquilidade de não estarem transmitindo a doença.
Este procedimento é mesmo eficaz? Um resultado negativo vai realmente gerar a segurança de estar com pais e avós sem os estar colocando em risco? A resposta, infelizmente, é não. Temos que lembrar o que sempre foi informado desde o início da pandemia, que o teste não é capaz de detectar todos os casos, pois depende da quantidade de vírus presente na nasofaringe e que, principalmente em pessoas que não apresentam sintomas, essa quantidade pode ser insuficiente para ser detectada pelo teste. Isso significa que, apesar de termos um resultado negativo do teste RT-PCR para SARS-CoV-2, é preciso manter todos os cuidados de proteção individual e de distanciamento, principalmente na presença de pessoas de maior risco. Isso significa que o teste não tem nenhum valor para as confraternizações que seguem no início de ano e as férias? Não, pois ao depararmos com um resultado positivo, nos é possível fazer o isolamento para que diminuamos a transmissão da doença. Portanto, fazer o teste é, sim, válido, contanto que saibamos que um resultado negativo não permite que abramos a guarda nos cuidados de prevenção, como o uso de máscara, álcool em gel nas mãos e evitar aglomerações e contatos muito próximos com outras pessoas, não somente, mas principalmente idosos, obesos e portadores de doenças crônicas. Utilizar um resultado de teste RT-PCR negativo como motivo para relaxar quanto aos cuidados de proteção é um grande erro.
E vale a pena relembrar aqui que o teste mais seguro para a detecção da infecção pelo SARS-CoV-2 ainda é o RT-PCR, em amostras de nasofaringe, coletadas através das narinas. Outros tipos de teste, como a pesquisa de antígeno e a de anticorpos no sangue, não têm a mesma sensibilidade do RT-PCR e, portanto, estão mais sujeitos a resultados falso negativos. A recomendação de uso para a pesquisa de antígeno é que seja utilizado em pessoas com sintomas, de preferência entre o 3º e o 5º dia após o início da sintomatologia e que seja confirmado com um teste de RT-PCR nos casos de negatividade. Já a pesquisa de anticorpos só tem valor para saber se a pessoa já teve contato com o vírus e desenvolveu anticorpos, há pelo menos 7 dias, sendo mais recomendado a realização do teste após o 15º dia. Portanto, este teste tem a sua indicação principal naqueles casos em que houve o desenvolvimento de sintomas, mas não foi possível a confirmação através do RT-PCR, porque não foi realizado ou até mesmo porque teve um resultado negativo.
E o risco de reinfecção? Realmente existe? Existem já vários relatos de reinfecção pela Covid-19. Entretanto, a quantidade ainda é muito pouco significativa em relação ao total de casos registrados. O que sabemos hoje é que, na maioria dos relatados, a reinfecção ocorreu nos casos em que houve o desenvolvimento de sintomas leves ou até não houve sintomas na primeira ocasião, o que não foi suficiente para permitir que os mecanismos de defesa produzissem anticorpos capazes de neutralizar a ação do vírus em uma segunda exposição. Os estudos indicam que quem desenvolve anticorpos geralmente está protegido por um período médio de 6 meses. Isso indica que quem tem anticorpos pode relaxar quanto aos cuidados de proteção individual e distanciamento social? Não, pois não temos ainda o conhecimento pleno da doença. Portanto, mesmo aqueles que tem anticorpos deve manter todos os cuidados, como se ainda tivesse risco de contrair a doença. Vale a pena lembrar que os melhores testes para a detecção de anticorpos são aqueles realizados nos laboratórios de análises clínicas, através da coleta de sangue. Os testes rápidos, feitos em farmácias, etc, podem estar sujeitos a resultados tanto falso negativos como falso positivos.
Portanto, mesmo querendo nos reunir com parentes e amigos, temos que ter a consciência do risco que estamos correndo e submetendo outras pessoas. Grandes aglomerações e o relaxamento das medidas de proteção individual devem ser totalmente evitadas. Estamos em um período muito crítico da doença e todo cuidado ainda é pouco.
Médico Patologista Clínico, MBA em Gestão de Negócios pelo IBMEC, Membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clinica (SBPC), American Association for Clinical Chemistry (AACC), American Society for Microbiology (ASM), American Molecular Pathology (AMP) e European Society for Microbiology and Infectious Diseases (ESCMID), Diretor Médico do Laboratório Richet, RJ.