Brasil na era da longevidade: curso internacional e gratuito chega ao país
Iniciativa global oferece, sem custo, curso em português, baseado em evidências científicas sobre envelhecimento saudável e qualidade de vida.
Dr. Fabiano M. Serfaty: O mundo vive uma transformação silenciosa e poderosa: nunca antes tantas pessoas viveram tanto, e nunca o debate sobre como viver mais e melhor foi tão urgente. Envelhecer deixou de ser apenas um destino biológico para se tornar também um campo de inovação científica e médica. É nesse cenário que surge o conceito de Medicina da Longevidade, um movimento que une ciência de ponta, prática clínica e políticas de saúde para enfrentar os desafios e, sobretudo, aproveitar as oportunidades de uma vida mais longa.
No Brasil, essa realidade é ainda mais relevante: até 2030, o país será o 6º do mundo com maior número de idosos, um dado que exige soluções inovadoras para garantir não apenas a longevidade, mas também a qualidade de vida dessa população crescente.
No coração dessa revolução está a gerociência, área que estuda os mecanismos biológicos do envelhecimento e abre caminho para prevenir doenças crônicas, otimizar a saúde e ampliar os anos de vida com qualidade. Para difundir esse conhecimento em escala global, nasceu o Longevity Education Hub, uma plataforma educacional que conecta médicos e profissionais de saúde ao que há de mais avançado em ciência da longevidade. Com o lançamento do capítulo em português, essa iniciativa ganha ainda mais força, aproximando o país de uma rede internacional de especialistas e oferecendo, uma formação inédita, gratuita e baseada em evidências. É sobre esse marco histórico, seus impactos e o futuro da medicina que o convidei a Dra. Evelyne Bischof, médica, uma das criadoras do curso de medicina da longevidade , presidente da Healthy Longevity Medicine Society e uma das principais vozes globais da Medicina da Longevidade.O lançamento do capítulo brasileiro do Longevity Education Hub representa um marco histórico. Qual é o papel estratégico do Brasil dentro dessa rede global de educação em longevidade?
Dra. Evelyne Bischof: De fato, é! Especialmente porque os cursos são gratuitos, totalmente livres de interesses comerciais e têm como objetivo oferecer educação para o maior número possível de pessoas.O papel estratégico do Brasil é fundamental por três razões: escala, progresso e dinamismo científico. O país conta com uma equipe de saúde incrível, formada por um grande número de escolas médicas, além de uma população vasta do jovem ao idoso e sistemas de saúde público-privados sólidos. Isso torna o Brasil um lugar ideal para testar modelos equitativos de cuidado em longevidade saudável em nível populacional.As universidades e a comunidade de médicos-cientistas do Brasil são vibrantes e colaborativas, e o país conecta naturalmente a América Latina às redes globais. O capítulo brasileiro terá o papel de adaptar as melhores práticas à região e, ao mesmo tempo, exportar inovações brasileiras para o mundo.
Dr. Fabiano M. Serfaty: A gerociência tem sido discutida como uma nova especialidade médica. Pode explicar o que é gerociência e como ela difere das especialidades médicas tradicionais?
Dra. Evelyne Bischof:A gerociência estuda como a biologia do envelhecimento impulsiona múltiplas doenças crônicas e como o direcionamento desses mecanismos comuns (por exemplo: senescência celular, inflamação, disfunção mitocondrial) pode atrasar, prevenir ou reduzir o risco de doenças em diferentes sistemas do corpo.Enquanto as especialidades tradicionais tratam doenças específicas, a gerociência busca criar uma trajetória de saúde para o paciente, atuando de forma antecipatória para prevenir o envelhecimento patológico.Ela não substitui cardiologia ou endocrinologia, mas as complementa ao abordar os processos de envelhecimento que aumentam o risco para todas essas áreas.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Por que é essencial estudar gerociência hoje, especialmente considerando suas implicações na prevenção e tratamento do envelhecimento e de doenças crônicas relacionadas à idade?
Dra. Evelyne Bischof: Em primeiro lugar, porque o envelhecimento é um processo que diz respeito a todos nós. Em segundo, porque a gerociência trata da otimização da saúde e do desempenho, o que é um direito de todos.Do ponto de vista demográfico, não conseguiremos lidar com a carga da multimorbidade apenas com cuidados fragmentados, “órgão por órgão”. Do ponto de vista científico, finalmente dispomos de biomarcadores, ferramentas de estratificação de risco e intervenções iniciais que atuam diretamente nos mecanismos do envelhecimento. E, do ponto de vista clínico, isso abre uma nova camada de prática médica: previsão de riscos mais cedo, modificação mais inteligente dos riscos e potencial economia de anos vividos com incapacidade.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Como médicos e profissionais de saúde podem acessar gratuitamente o curso oferecido pelo Longevity Education Hub e por que vocês decidiram lançar uma iniciativa tão inovadora sem custo para os participantes?
Dra. Evelyne Bischof: Os médicos podem se inscrever diretamente pelo Longevity Education Hub, através deste link: https://longevity-degree.teachable.com/p/longevity-medicine-101-update-portuguese. O currículo é baseado em evidências, clinicamente prático e atualizado regularmente. Os participantes recebem um certificado ao concluir o curso. Nós o tornamos gratuito porque acreditamos que uma educação confiável em longevidade não deve ser um luxo. Retirar a barreira financeira acelera a adoção segura, reduz a desinformação e ajuda médicos ocupados a aprimorarem suas habilidades rapidamente.Os cursos oferecem a base certa, especialmente quando os estudantes se engajam em autoaprendizado com leituras recomendadas, para adquirir o vocabulário adequado e seguir avançando em estudos clínicos.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Como presidente da Healthy Longevity Medicine Society, qual é a sua visão sobre o papel do Longevity Education Hub na padronização e disseminação da Medicina da Longevidade em escala global?
Dra. Evelyne Bischof: O Hub é acessível e, agora, graças a tantos voluntários traduzindo os cursos para diferentes idiomas, tornou-se também uma espinha dorsal global de padronização: com definições compartilhadas, competências, caminhos clínicos e formas de avaliação. É também o nosso motor de disseminação: traduzindo materiais, alinhando com universidades e conselhos médicos, e apoiando CME/CPD.Gostaríamos que mais universidades adotassem currículos de medicina da longevidade saudável, cada uma de acordo com suas possibilidades e logística, como já aconteceu em colaboração com Makassar, na Indonésia, ou com a KMU, em Bangkok, onde os estudantes de medicina já recebem currículo obrigatório de medicina da longevidade saudável.É um dos meus sonhos ver a próxima geração de médicos recém-formados já com esse conhecimento. No futuro, gostaria que a Healthy Longevity Medicine fosse reconhecida como uma subespecialidade, com certificações e conselhos credíveis.Por agora, desejo que todo clínico geral, internista e especialista tenha um manual claro e validado de Medicina da Longevidade Saudável: auditável, interoperável com sistemas locais e mensurado em relação aos resultados dos pacientes.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Qual é a sua mensagem para os médicos e profissionais de saúde do Brasil que agora têm a oportunidade de acessar, em português, uma formação internacional em Medicina da Longevidade e se conectar a um movimento científico global?
Dra. Evelyne Bischof: Bem-vindos! A sua expertise e as necessidades dos seus pacientes são centrais para este movimento.Participem do curso em português, tragam suas dúvidas clínicas e nos desafiem com as realidades locais do SUS à saúde privada.Vamos construir uma base de evidências brasileira, publicar juntos e formar a próxima geração, para que a Medicina da Longevidade no Brasil seja rigorosa, acessível e disponível para todos.
Fontes :





