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Esquinas do Esporte

Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania
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Encruzilhada humanitária se mantém atual também no esporte

Indústria esportiva se confronta com a necessidade de estancar brutalidades e oxigenar o diálogo: desafio lembrado no longa "Ainda estou aqui"

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Atualizado em 18 nov 2024, 08h49 - Publicado em 14 nov 2024, 10h47
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Fernanda Torres: filme no qual interpreta Eunice Paiva estreia em 7 de novembro  (./Divulgação)
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É preciso ver “Ainda estou aqui”. Enquanto as placas tectônicas da decência se movem perigosamente, enquanto arremessam cabeças de porco no gramado, enquanto incendeiam torcedores, é preciso ver.

O visceral longa de Walter Salles ilumina a batalha entre perversidade e resiliência, vulgaridade e elegância, entre o esquecimento cruel e a memória redentora. Entre o porão e a claridade. Retrato do que fomos, do que somos, talvez do que jamais deixaremos de ser.

Eunice conduz o mergulho no espelho. Mangas arregaçadas, a viúva de Rubens Paiva cria os cinco filhos sem concessões ao choro, sem arredar um milímetro da perseverança em descobrir o paradeiro do marido arrancado de casa por agentes da repressão militar. Aquela fatídica manhã no verão carioca de 1971 estenderia-se por décadas.

A espinha ereta de Eunice, magistralmente vivida por Fernanda Torres, emociona, orgulha, inspira. Também nos chama a decidirmos de que lado estamos, que país buscamos construir. Uma encruzilhada revestida de atualidade.

O dilema inclui o universo esportivo. Culturalmente, politicamente e comercialmente associado a valores como beleza, superação, solidariedade, não se abstém de caminhos opostos: preconceito, egoísmo, oportunismo. Reflexo das contradições humanas.

Os desvios civilizatórios manifestam-se, por exemplo, nos ataques racistas, homofóbicos, xenófobos perpetrados em estádios mundo afora, ainda confundidos com traços folclóricos, digamos, do futebol raiz. Desfrutam de uma inaceitável tolerância.

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A cabeça de porco arremessada no campo durante o duelo entre Corinthians e Palmeiras, dia 5 de outubro, adicionou sordidez à lista de barbaridades. Brincadeira de mau gosto, reprovaram alguns. Deu sorte aos corinthianos, amenizaram outros. Muitos acharam graça.

“Este caso escabroso se enquadra no artigo 213 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva. Ele estabelece multa e punição esportiva, como perda do mando de campo, que pode ser relevada se houver identificação e detenção de quem arremessou o objeto”, esclarece o coordenador da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio, Job Gomes.

Três semanas separam o mórbido incidente da emboscada a dois ônibus lotados de fãs do Cruzeiro. Foram agredidos por fogo, pedras, paus. Um deles não sobreviveu, 12 ficaram gravemente feridos.

Bordoadas levaram também flamenguistas dispostos a ver de perto a decisão da Copa do Brasil, contra o Galo, domingo passado, na capital mineira. A truculência se prolongou nos rojões disparados contra jogadores, logo depois do gol que selaria o título rubro-negro.

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As recorrentes agressões recebem tratamentos igualmente rotineiros. Variam entre a naturalização da violência, a indignação retórica e investigações protocolares. Enxugam gelo.

De raízes profundas, as violências endêmicas extrapolam, claro, os ambientes esportivos. Mas o setor tem o dever – moral, constitucional, cívico – de aprimorar mecanismos para saná-las. Um compromisso não menos exigido pelos interesses econômicos de um mercado movido a 200 bilhões de dólares por ano.

O desafio conjunto envolve desde sistemáticas campanhas educativas até tecnologias de inteligência para prevenir confrontos. Engloba desde aperfeiçoamentos jurídicos até multas e punições rigorosas – inclusive esportivas – aos corresponsáveis pelas desumanidades.

A necessidade de avanços substantivos convoca a mobilização de clubes, federações, atletas, torcedores, gestores privados e públicos, patrocinadores, jornalistas, influenciadores. Disso depende a virada.

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O primeiro passo, tão difícil quanto decisivo, é estancar os extremismos de plantão. Derrubam a imunidade contra o obscurantismo, a crueldade, a indiferença. Asfixiam a gentileza, a liberdade, a democracia. “Ainda estou aqui” nos lembra, com primor, a importância de oxigená-las.

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De bola cheia

Milão também se curva à  altinha. “Bola pro alto” é escolhido melhor longa no 42º Festival Internacional de Cinema, Esporte e TV – FICTS. O documentário dirigido por Cecília Lang já havia sido premiado no festival CineEsporte.

Com imagens e falas deliciosas, o filme desvela a cultura praiana por trás das rodas que desafiam a gravidade para manter a pelota no ar. A narrativa de 70 minutos navega pelo histórico pacto entre a areia carioca e a folia corporal.

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Doval no Leblon

Alma e pinta de carioca, o argentino Doval fez sucesso no Fla, no Flu, nos embalos do Rio. Luciano Ubirajara Nassar costura essas histórias numa biografia recém-lançada.

Ele vai autografar “Doval – o ídolo do povo“, sábado agora (23), às 11h, no Bigorrilho Leblon (Ataulfo de Paiva, 814).  Com o apoio d0 Museu da Pelada, a inciativa reunirá ex-jogadores de várias gerações.

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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.

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