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Fã ou hater?

Interrupção abrupta do podcast Calcinha Larga joga luz sobre um tipo de audiência fiel, mas um tanto fervorosa

Por Carla Knoplech
Atualizado em 14 set 2022, 00h30 - Publicado em 14 set 2022, 00h29
Qual o limite para a interação dos comentários dos fãs na internet?
Qual o limite para a interação dos comentários dos fãs na internet? (Unsplash/Divulgação)
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As apresentadoras de um dos meus podcasts preferido brigaram e eu, assim como milhares de ouvintes, estamos órfãs de um encontro que era química pura. Tipo aquele beijo do início de namoro que você fica idiota de tão grudenta. Não sabemos em detalhes o que houve, os meandros da história não vazaram (ainda), então o que nos resta é esperar pacientemente o desenrolar da situação torcendo para que elas não só façam as pazes como lavem a roupa suja no estúdio com o play ligado pra gente poder opinar em quem estava certa ou errada. Dito isso, vamos ao tema da coluna. Esse quiprocó (amo essa palavra) da podosfera nem bem havia se desenrolado quando comentários de seguidores fieis às três apresentadoras começaram a chegar em seus perfis das redes sociais. Aos montes. Avalanche mesmo. Muitos lamentando o ocorrido (o meu, inclusive), vários emojis de coração em solidariedade ao que aconteceu e um tipo, em especial, que me levou a sentar e escrever: o fã que na verdade é um hater. Ou seria um hater que no fundo é um fã?

Dezenas de mensagens públicas agressivas xingando/alfinetando/zoando não somente as pessoas envolvidas na história, como também as suas características pessoais, e é claro, seus atributos profissionais. Mesmo como uma veterana da internet nessas horas fico bem incomodada com esses ataques em massa. É claro que já sabemos a relação passional que os fãs têm com seus ídolos e como tudo isso é potencializado na internet por conta da distância e facilidade com que se alcança alguém. Entretanto, diferir palavras tão maldosas a quem você acompanha, sem dosar que do outro lado da tela tem gente de carne e osso me parece, ainda em 2022, um ato de loucura. Principalmente quando o alvo são mulheres talentosas que têm suas capacidades colocadas em xeque.

Esse podcast em especial, o Calcinha Larga, sempre foi uma espécie de catarse coletiva hilária de mulheres-mães de meia idade, exaustas, talentosas, hilárias e que ao fim do dia só queriam trocar ideia com gente interessante gerando entretenimento para a sua audiência. Quarta de manhã, fizesse chuva ou fizesse sol, estava lá a notificação do Spotify avisando que chegou episódio novo e que, portanto – oba – vinha cerca de uma hora de surto coletivo delicioso pela frente. Ou seja, essas pessoas que desandaram a gongar as suas podcasters preferidas nos comentários do Instagram, eram as mesmas que tomavam café da manhã no meio da semana anos a fio em suas companhias. Não são um bando de ingratos?

Que fique claro que se o real motivo da treta vazar e for algo grave, essa coluna envelhecerá tão mal quanto sutiã de alça de silicone. Mas, mantendo-se a justificativa entre arranca-rabos normais da vida adulta, eu torço para que esses haters sintam vergonha de proferirem ódio quando na verdade é o amor por elas o xis da questão. Há quem diga que esses sentimentos são os mais próximos um do outro e que, portanto, zapear por eles é quase automático. Eu entendo. Mas sugiro dosar a opinião ao compartilha-la. Antes de fechar essa coluna, fui checar como andava o número de comentários em um post irônico sobre o assunto de uma das apresentadoras e me deparei com mais de 400 respostas em 48 horas. Uma delas em especial resume bem o ponto aqui: “Te conheço desde os primórdios do Twitter, quando tudo era mato. Naquela época eu tinha uma implicância contigo, era inveja, certeza. Hoje eu te amo e tento acompanhar todos os seus trabalhos”, diz a fã. Que um dia já foi hater.

Carla Knoplech é jornalista, fundadora da agência Forrest, de conteúdo e influência digital, consultora e professora

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