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Analice Gigliotti

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Comportamento
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Ripley: o perigoso e fascinante mundo de um psicopata

Série da Netflix faz um retrato impressionante do que passa na cabeça de um psicopata

Por Analice Gigliotti
22 jul 2024, 10h50
Retrato do ator Andrew Scott como Ripley.
Ripley (Andrew Scott): personagem exemplifica bem a mentalidade de um psicopata. (Netflix/Reprodução)
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Uma das séries de maior sucesso no momento, “Ripley” é um prato cheio. São muitas as razões para se acompanhar a série baseada no personagem antológico criado pela autora Patricia Highsmith: a fotografia irretocável que cria lindas imagens em preto e braço, a oportunidade de (re)ver a Itália, além do trabalho de grandes atores. Mas a série oferece ainda a oportunidade de entrar na mente de um psicopata e entender como funciona a sua lógica.

Ripley apresenta o traço principal de um psicopata: a frieza e a falta de empatia para com os outros, o egocentrismo e a mais absoluta falta de remorso. Não apenas com desconhecidos, mas até mesmo para quem o acolhe ou oferece oportunidades.

Na trama, o protagonista vai à Itália tentar convencer o filho de um homem rico a voltar pra casa. Bom vivant, o rapaz resiste em retornar para os Estados Unidos, passando os dias ao dolce far niente da Itália, entre pincéis e mergulhos no mar. Ripley cria um plano para, aos poucos, ir tomando a sua personalidade.

Outras obras do audiovisual já exploraram, de alguma forma, este enredo. Em “A Malvada”, a personagem de Bette Davis oferece uma chance como assistente para a personagem de Anne Baxter. A fixação na chefe faz com que a própria Bexter construa uma obsessiva carreira rumo ao estrelato. O filme serviu de inspiração declarada para o novelista Gilberto Braga criar “Celebridade”, um de seus maiores sucessos. No enredo, Laura Prudente da Costa (Claudia Abreu) cria um plano de vinganç a para tomar tudo que pertence à Maria Clara Diniz (Malu Mader).

O que chama a atenção em “Ripley” são os silêncios que nos permitem entender perfeitamente o que vai à cabeça do personagem, num trabalho primoroso do ator Andrew Scott. Aos poucos, ele se apropria da personalidade, da voz, dos bens, dos quadros e de tudo que define a existência de seu mais novo amigo Dickie – ainda que para isso seja preciso mentir, dissimular, matar e até ocultar cadáveres.

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Ao contrário de outros filmes e séries, que mostram psicopatas de forma excessivamente agressiva, Ripley é apresentado como uma pessoa absolutamente comum, amigável, charmoso e gentil, o que deixa tudo ainda mais assustador – e difícil de ser identificado socialmente.

Outro traço muito interessante, abordado com bastante sutileza na série, é o comportamento sexual de Ripley. Sem nunca ser óbvio, fica nas entrelinhas uma indefinição quanto ao interesse do personagem, o que acaba por deixar toda a construção da personagem e da trama ainda mais rica.

A psicopatia (ou transtorno antissocial de personalidade, como dizemos os psiquiatras) atinge até 2% na população mundial, o dobro da incidência de casos de esquizofrenia. No Brasil, as estimativas apontam de 2 milhões a 4 milhões de pessoas com este transtorno de comportamento.

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O transtorno antissocial pode ser difícil de ser tratado e depende de vários fatores, como a gravidade do caso e a vontade do paciente de participar. A psicoterapia pode envolver o tratamento do abuso de substâncias (muito comum nesse transtorno), técnicas para melhorar as habilidades socioafetivas, como as de manejo da raiva, da violência e reconhecimento da importância de outros agentes sociais, como a família, a escola, e os amigos. Em alguns casos, o uso de medicação também pode ser indicado, se tratada com psicoterapia.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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