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O Rio de Burle Marx

Um passeio pelos belos legados de Roberto Burle Marx no Rio, paisagista que ajudou a deixar a cidade ainda mais maravilhosa com projetos como o Aterro do Flamengo e o terraço-jardim do Palácio Gustavo Capanema

Por Daniela Pessoa e Ernesto Neves
Atualizado em 5 dez 2016, 15h30 - Publicado em 18 jul 2012, 12h44

Depois que o Rio se tornou Patrimônio Cultural da Humanidade, não param de brotar iniciativas para comemorar a conquista. Uma delas é a instituição do dia 4 de agosto como o Dia de Burle Marx, uma homenagem ao talentoso paisagista de São Paulo que, mesmo não tendo nascido no Rio, morou a maior parte de sua vida na cidade – primeira do mundo a receber o título da Unesco na categoria paisagem cultural urbana. Nela estão localizados seus principais trabalhos, embora a obra do artista possa ser encontrada Brasil afora e ao redor do mundo. Das doze belezas cariocas agora reconhecidas mundialmente, quatro têm o toque do gênio: o Aterro do Flamengo, o Parque do Flamengo, a Praia de Copacabana com o famoso calçadão bicolor de desenho inspirado nas ondas do mar e a Floresta da Tijuca com o Açude da Solidão. Conheça outros legados que o maior paisagista do século 20 (e também desenhista, pintor, tapeceiro, ceramista, escultor, pesquisador, cantor e criador de joias) deixou para o Rio, ajudando a deixa-lo ainda mais bonito.

Atuando ao lado de arquitetos e urbanistas como Lucio Costa e Oscar Niemeyer, Burle Marx, que estudou pintura na Alemanha durante um ano, época em que se tornou frequentador assíduo do jardim botânico de Berlim, transformou mais de 2000 jardins espalhados pelo mundo em verdadeiras obras de arte e deixou sua marca em alguns dos principais projetos da arquitetura moderna brasileira. O mais célebre, que o consagrou em 1947, foi o terraço-jardim projetado no Palácio Gustavo Capanema, no Centro, considerado um marco de ruptura no paisagismo brasileiro. Criado na sede do então Ministério da Educação e Cultura com vegetação nativa, formas sinuosas e espaços contemplativos, ele tem uma configuração inédita no Brasil e no mundo.

A partir de então, Burle Marx passou a trabalhar com uma linguagem bastante ligada às vanguardas artísticas como a arte abstrata, o concretismo, o construtivismo, entre outras. O paisagista é o responsável, ainda, pela popularização das bromélias, muito usadas em seus projetos. Em 1949, comprou um sítio de 365 000 metros quadrados em Barra de Guaratiba, onde plantou inúmeras espécies de plantas – a flora local é composta por mais de 3 500, muitas em extinção. Lá buscava inspiração e matéria prima para suas criações. Mais tarde, em 1985, doou a propriedade e todo o acervo, que conta com peças de cerâmica de fabricação própria e biblioteca com mais de 2 500 livros, ao atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Outros projetos de destaque são os jardins da Cidade Universitária da atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (1953), o Museu de Arte Moderna do Rio (1955), assinado em parceria com o velho amigo Oscar Niemeyer, que conheceu na Escola de Belas Artes, e o Parque do Flamengo (1961), concebido em uma área de 1,2 milhão de metros quadrados. Menos conhecidos, porém não menos importantes, Burle Marx também criou o projeto para a Avenida Presidente Vargas, além de praças públicas como a do Lido, em Copacabana, prédios modernistas como o Edifício Antônio Ceppas, no Jardim Botânico, e condomínios como o Riviera dei Fiori, na Barra.

Em 2009, foram tombados 88 jardins cariocas assinados pelo artista, como o do Palácio Gustavo Capanema, o do Hospital da Lagoa e o da sede do BNDES, no Centro, que forma um conjunto com o entorno do Convento de Santo Antônio, no Largo da Carioca. Vinte e dois destes espaços verdes, no entanto, estão localizados em imóveis privados, sem acesso ao público – um deles fica na casa onde morou o empresário e jornalista Roberto Marinho, no Cosme Velho. A boa notícia é que a prefeitura estuda abri-los para visitação, caso os proprietários concordem.

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