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Curvas concretas

Já toma forma o Caminho Niemeyer, obra multifacetada que marca o início do processo de revitalização do Centro Histórico de Niterói

Por Paulo Vasconcellos
Atualizado em 5 jun 2017, 14h36 - Publicado em 28 mar 2012, 19h52
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arquitetura-1.jpg (Redação Veja rio/)
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Depois do surgimento do Museu de Arte Contemporânea (MAC), que foi erguido em 1996 e deu um senhor impulso ao turismo da região, Niterói está vendo crescer, nos últimos anos, um complexo de prédios destinados à cultura, com estruturas de serviço e lazer na orla da Baía de Guanabara. Trata-se do chamado Caminho Niemeyer. O conjunto, que leva a chancela do mais conhecido arquiteto brasileiro, Oscar Niemeyer, tem por objetivo reunir teatro, cinemas, torre panorâmica, centro de convenções, terminais de transporte e ainda um memorial. Uma vez prontos, seus equipamentos (instalados numa faixa de 3 quilômetros de extensão, do Aterro da Praia Grande, no centro, até o MAC, no bairro da Boa Viagem) vão dotar a cidade de uma estrutura invejável e de um convite irrecusável a quem vier ao Brasil para a Copa de 2014 e para os Jogos Olímpicos de 2016. E mais: o complexo apenas inaugura um ciclo de obras, do alargamento de ruas à restauração de edifícios, que promete dar nova vida à área central da cidade.

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“O Caminho resgata a autoestima do niteroiense”, afirma Selmo Treiger, presidente da instituição. “Essa obra é um investimento na qualidade de vida”, diz o prefeito Jorge Roberto Silveira, que idea­lizou o projeto numa conversa com o próprio Niemeyer, em 1997. O plano inicial era que o arquiteto bolasse uma nova estação de barcas, mas a ideia cresceu. Acabou evoluindo para uma proposta mais ambiciosa, definida por Niemeyer como “a chance de fazer um conjunto voltado para o povo e para a arte, debruçado sobre a baía”. Será seu maior conjunto de obras, sem contar, claro, Brasília. O custo é estimado em 240 milhões de reais, dinheiro que está vindo dos governos federal e estadual e de parcerias com a iniciativa privada. Já se encontram finalizados prédios como o Teatro Popular e o Museu do Cinema. Ainda faltam a torre e os terminais de ônibus, barcas e metrô. A simples conclusão dos primeiros prédios já atrai a curiosidade de gente que busca ver as obras de perto – de carro, de barco ou até de helicóptero.

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A Fundação Oscar Niemeyer, em que funcionará também a Universidade de Arquitetura e Humanidades, aguarda agora a transferência do acervo do arquiteto para abrir as portas ao público. De igual modo, o Museu Petrobras de Cinema depende da licitação para a escolha da empresa operadora das seis salas. O prédio tem o formato de um rolo de filme e janelas especiais que permitirão a quem está de fora ver a circulação das pessoas lá dentro, como se fossem imagens em negativo. Uma praça chamada Juscelino Kubistchek, já inaugurada, abriga uma garagem subterrânea com 500 vagas. A previsão é que ela comporte mais 1?500 veículos quando entrarem em operação os terminais interligados de ônibus, barcas e metrô.

Junto com as construções do Caminho vêm sendo desenvolvidas ações paralelas, que giram em torno da revitalização do centro de Niterói. No ano passado, a prefeitura concluiu o levantamento de todos os imóveis da região e iniciou o processo de tombamento daqueles com valor arquitetônico. O passo seguinte foi o lançamento do Certificado de Potencial Adicional de Construção (Cepac), letra imobiliária que segue o modelo de captação de recursos adotado pelo projeto Porto Maravilha, para a recuperação da Zona Portuária do Rio de Janeiro. O papel será negociado na bolsa de valores e deve viabilizar investimentos de grande porte em áreas comercialmente enfraquecidas na cidade.

Projetado em 1816, com influências renascentistas, o centro de Niterói sofreu o mesmo processo de degradação que atingiu a zona central de cidades como Rio e São Paulo. Sua revitalização prevê detalhes como a modernização das calçadas, para facilitar a mobilidade de deficientes físicos, e a restauração de prédios históricos. Todas essas obras vêm se juntar ao pioneiro MAC, hoje o símbolo maior da cidade, imponente, com formas que para muitos lembram um disco voador. Conhecido mundo afora, foi citado recentemente em Hobalalá, livro do alemão Marc Fischer sobre o músico João Gilberto. Quando esteve no Brasil, o autor visitou Niterói e ficou encantado com o cartão-postal, definindo-o como “um pires branco no meio da colina”. Ele escreveu: “Trata-se de uma construção maravilhosa, mas onde a arte não tem vez. Jamais um quadro ali exposto vai sobrepujar o próprio museu”.

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