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Uma imundície só

A quantidade de resíduos per capita do Rio é a maior do Brasil - e quase nada é reciclado

Por Rachel Sterman
Atualizado em 5 jun 2017, 14h35 - Publicado em 11 abr 2012, 17h51
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lixo-1.jpg (Redação Veja rio/)
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Não é preciso muito esforço para entender os motivos que levaram o Rio a ser a cidade campeã na produção de lixo no país. Basta lembrar o estado em que amanheceu a Praia de Copacabana no dia 1º de janeiro deste ano ou mesmo como ficaram os bairros por onde passaram blocos no último Carnaval. Uma simples olhada atenta às calçadas e sarjetas já revela que lidamos muito mal com aquilo que jogamos fora. Cada um de nós produz diariamente 1,8 quilo de porcarias de toda espécie, de dejetos domésticos a resíduos industriais e hospitalares. Tamanho volume, compilado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), indica que fazemos 50% mais sujeira que as outras metrópoles brasileiras. Em média, um carioca joga na lixeira, a cada ano, o equivalente a oito vezes o próprio peso. A situação torna-se mais dramática com a constatação de que o índice de reaproveitamento da sede do mais importante evento sobre desenvolvimento sustentável do ano, a Rio+20, é de apenas 3%, ou 252 toneladas. E, desse montante, somente 18 toneladas cabem à Comlurb. O programa de coleta seletiva mantido pela empresa está presente em apenas 41 dos 160 bairros em sistema de recolhimento semanal – ou seja, é tímido tanto em tamanho quanto em periodicidade. Os demais projetos que buscam dar novo destino ao que é descartado são escorados em catadores, cooperativas e pontos de entrega voluntária, meios que respondem pelo restante da ínfima quantidade de resíduos reciclados.

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Dar um fim adequado a embalagens, papéis e garrafas pode ser trabalhoso e exigir abnegação. Três vezes por semana a bióloga Ananda Bevacqua sai do apartamento onde mora com a família, no Humaitá, carregada de sacolas com lixo. O material – plástico, alumínio, metal, vidro e papel – está sempre devidamente separado e é entregue em um dos pontos mantidos pela Light para os moradores da região. Representantes da ONG Doe Seu Lixo, parceira da concessionária na iniciativa e em funcionamento há sete meses, recebem, separam e pesam resíduos reaproveitáveis trazidos pela população. A recompensa: desconto na conta de luz, que varia de acordo com o volume coletado. “Queríamos nos desfazer dos dejetos de maneira correta, mas não tínhamos opção”, afirma a bióloga, que costuma ir acompanhada da amiga Paula Milward ao ecoponto instalado no Largo dos Leões, no Humaitá. Atualmente, todos os moradores de seu prédio participam do programa. Além de garantir que os itens sejam destinados ao lugar adequado, a família passou a tomar certos cuidados na hora de consumir. “Nós nos demos conta da quantidade de detritos que produzimos e procuramos planejar as compras para trazer menos invólucros para casa”, diz ela. Desde o início da ação já foram reciclados 188 toneladas de material sólido e 1?800 litros de óleo de cozinha.

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É sabido que o exemplo de Ananda está longe de ser seguido pela maioria da população. Por falta de informação, conscientização e estímulo, o carioca não vem utilizando os meios para ajudar em um dos aspectos mais delicados do desenvolvimento sustentável – isso quando não age como um porquinho mesmo. A cada dia, por exemplo, são despejadas mais de 3 toneladas de lixo diretamente nas ruas. “Teremos de fazer um investimento maciço em propaganda para chamar a atenção do cidadão”, analisa José Henrique Penido, da diretoria técnica e industrial da Comlurb. A empresa planeja erguer também seis galpões de triagem de material, nos quais serão oferecidas melhores condições de trabalho tanto aos catadores já credenciados como aos informais, chamados de atravessadores, que serão devidamente cadastrados. Com um orçamento de 50 milhões de reais, o programa envolverá a compra de quinze caminhões específicos para a coleta seletiva, a expansão do número de bairros atendidos, de 41 para 120, e uma campanha de orientação e incentivo. “Só faremos agora porquese trata de uma operação cara e a companhia tinha outras prioridades”, afirma Penido. Apesar do atraso, o plano deve começar a ser implantado em julho, com a última etapa de ampliação no primeiro semestre de 2013. Até lá, os moradores da cidade podem ir treinando com as dicas que constam no quadro ao lado para deixar ainda mais bonito – e limpo – o lugar que tanto amam.

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