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Chique é circular: novos brechós cariocas incentivam consumo consciente

Limpos, arejados e organizados, eles combinam com tempos em que é inadiável parar de castigar o planeta

Por Marcela Capobianco
16 jun 2023, 07h00
Negócio sustentável: a atriz Deborah Secco virou sócia de rede de brechós
Negócio sustentável: a atriz Deborah Secco virou sócia de rede de brechós (./Divulgação)
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As últimas previsões sobre o futuro do clima no planeta não deixam margem à dúvida: a humanidade precisa encarar uma radical mudança de hábitos, de modo a contribuir com o corte à metade das emissões de gases do efeito estufa até 2030. E a mudança de comportamento envolve os mais diversos escaninhos da vida — desde a economia até departamentos mais do dia a dia, que requerem hoje uma necessária consciência ambiental. Nesse contexto, os cariocas vêm incorporando uma prática já bastante disseminada mundo afora: comprar itens usados nos brechós espalhados pela cidade, que lembram cada vez menos aqueles ambientes mal iluminados, empoeirados e desorganizados do passado. Os novos estabelecimentos dedicados a produtos de segunda mão nada devem às lojas de shopping, têm preços convidativos e se apresentam como rentáveis opções de negócio. “Os holofotes globais estão virados para a moda sustentável”, acredita Bruna Vasconi, fundadora do Peça Rara, que aportou no Shopping Downtown, na Barra, e tem como sócia a atriz Deborah Secco. Por lá, são cadastrados diariamente cerca de 500 novos produtos — da Hering a Gucci, passando por Farm, Foxton e Reserva, cujo preço médio oscila em torno de 50 reais.

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Com elevada procura, a tendência é de proliferação de novos e mais equipados brechós. A previsão do Peça Rara, por exemplo, é fechar o ano com 100 lojas, doze só na cidade do Rio, com faturamento na casa dos 150 a 180 milhões de reais, quase o dobro de 2022. Voltada para itens infantis, de carrinhos de bebê a roupinhas usadas, a Cresci e Perdi aplica receita semelhante, ganhando escala a cada dia: são 400 lojas no Brasil, vinte espalhadas pelo Rio. O crescimento desse mercado se enquadra em um cenário de concretas preocupações com o planeta. Afinal, a indústria da moda é a segunda mais poluidora de todas, atrás apenas da petrolífera. Dados da Global Fashion Agenda, organização dinamarquesa sem fins lucrativos, mostram que 92 milhões de toneladas de lixo têxtil são descartadas por ano — e só 1% do total é reciclado. No entanto, um estudo da mesma entidade prova que, com os devidos investimentos em maquinário e infraestrutura, quase 80% do setor poderá se tornar circular até 2030, ou seja, se fincar em matérias-primas produzidas de forma mais sustentável e com base em itens reciclados e recicláveis.

Loja circular da Renner: arquitetura e operação com materiais de baixo impacto ambiental
Loja circular da Renner: arquitetura e operação com materiais de baixo impacto ambiental (./Divulgação)

A mentalidade está mudando para o bem. “Atualmente, quem usa roupa de segunda mão é visto como engajado e descolado”, avalia Bárbara Cruz, professora do departamento de design da PUC-Rio e pesquisadora de moda sustentável. O advogado Aruanã Costa viu de perto como o bom e velho usado faz os pés do carioca. Dono do Santa Tênis, com prateleiras de calçados em ótimo estado, em Santa Teresa desde 2021, ele certa vez recebeu um tiktoker que, naturalmente, postou um vídeo após a visita. Em poucos dias, alcançou inacreditáveis 1 milhão de visualizações. “Foi uma loucura, comecei a ver na loja clientes de todos os cantos do Rio”, lembra ele, que vende principalmente calçados das marcas Redley, Vans e All Star, cujos preços variam de 30 a 380 reais.

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Não apenas a subida da temperatura da Terra, mas também a pandemia estimulou as pessoas a repensar o acúmulo nos guarda-­roupas. E os números estão aí para mostrar o efeito de tal reflexão: no primeiro semestre de 2021, houve aumento de quase 50% na abertura de negócios dedicados ao mercado de segunda mão no Rio em relação ao ano anterior, de acordo com o Sebrae. Não apenas pequenos empreendedores que vislumbram espaço no ascendente nicho se fazem presentes, mas também gigantes do varejo. A Renner, por exemplo, levou para as lojas do Rio Sul e do ParkShopping Jacarepaguá o modelo 100% circular, desde a obra, com materiais que geram menos impacto ambiental, até a operação, investindo no uso de energia renovável e equipamentos que reduzem o consumo de água. “Existe um mundo de opções para quem se preocupa com o entorno, e nos brechós é possível achar peças de qualidade a excelentes preços”, defende a consultora de estilo Juliana Lenz, que toca com a sócia, Priscilla Cunha, o Personal Brechó, no Leblon. Especializado em marcas de luxo, o local oferta artigos de grife por valores impensáveis quando vendidos em primeira mão. É preciso ficar atento ao ir e vir de oportunidades. No brechó Maio 68, na Tijuca, voltado para peças vintage, de vez em quando pipocam calças de alfaiataria da Cacharel a 130 reais.

Faz Girar: as barraquinhas da feira “de segunda mão” são ocupadas por quem quer desapegar
Faz Girar: as barraquinhas da feira “de segunda mão” são ocupadas por quem quer desapegar (./Divulgação)

Feiras ao ar livre, vocação natural da cidade, também abrem passagem para esse mercado que dá vida nova ao que não cabe mais no armário. A cada dois meses, a Faz Girar reúne barraquinhas com itens de segunda mão, sob a inspiração de algo parecido em Barcelona, onde a designer Paula Maia morou por cinco anos. “Meu business não é vender, mas conscientizar a população sobre a importância de levar uma vida mais sustentável”, afirma a fundadora da feira. Coerente com a causa, a última edição contou com oficina de compostagem, para incentivar os frequentadores a destinar corretamente o lixo. “Antigamente, diziam que roupas de brechó carregavam energias ruins dos antigos donos. Engraçado que nunca pensaram o mesmo sobre um carro ou um apartamento, né?”, provoca Carolina Padula, sócia do Maio 68. Pessoas como ela fazem a roda da história girar sob outra lógica — e o planeta agradece.

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A rota do garimpo
De roupas a calçados, o que encontrar nos novos brechós da cidade

Peça Rara
(Divulgação/Divulgação)

Peça Rara

-Av. das Américas, 500, bloco 11, loja 107, Shopping Downtown, Barra
-Peças de vestuário, acessórios e itens de decoração de marcas variadas, de Hering a Gucci, passando por Farm, Foxton e Reserva
-A partir de 50 reais

Maio 68
(./Divulgação)
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Maio 68

-Rua do Matoso, 184, Tijuca
-Peças de vestuário vintage, como saias rodadas da década de 60 e artigos em alfaiataria
-A partir de 50 reais

Santa Tênis

Rua Felício dos Santos, 9, Santa Teresa
Tênis de marcas como Redley, Vans, All Star e Nike
A partir de 30 reais

Cresci e Perdi

-Av. das Américas, 2480, Shopping Lead Américas, Barra, e mais dezenove endereços
-Roupinhas e acessórios infantis, desde carrinhos de bebê até brinquedos usados
-A partir de 15 reais

Personal Brechó
(Denise Leão/Divulgação)
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Personal Brechó

-Av. Ataulfo de Paiva, 706, Leblon
-Roupas e acessórios de marcas de luxo nacionais e estrangeiras como a francesa Hermès
-A partir de 80 reais

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