Caso Marielle: mandantes acreditavam que investigação ‘não daria em nada’
Em delação remiada, o executor do crime, Ronnie Lessa, revelou novos detalhes do crime
Algum tempo depois do assassinato da vereadora Marielle Franco, diante da enorme comoção e repercussão do caso, o ex-policial Ronnie Lessa, autor dos disparos, esteve pessoalmente com os mandantes do crime. Segundo informações da TV Globo, consta em sua delação premiada que o matador externou aos contratantes que estava muito preocupado com a pressão da sociedade para identificar e prender os assassinos. O ex-PM contou que a resposta foi que ficasse tranquilo, pois a investigação (em curso na época) não ia dar em nada, sugerindo que eles (mandantes) tinham acesso privilegiado a pessoas que investigavam a execução de Marielle.
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A delação premiada de Lessa foi homologada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), porque um dos envolvidos no crime – que também vitimou o motorista Anderson Gomes – tem foro privilegiado. Segundo a rede CNN, a bancada do Rio de Janeiro na Câmara dos Deputados foi informada de que o deputado federal Chiquinho Brazão (União-RJ) foi citado na delação de Lessa. O nome do parlamentar já era investigado e, ainda de acordo com a CNN, um outro nome com foro privilegiado também consta na delação. A principal linha de investigação, de acordo com a rede, é de que a morte da vereadora foi encomendada por conta de uma disputa de terras na Zona Oeste. A disputa seria para regularização de um condomínio, e Marielle trabalhava para que a região fosse considerada como de interesse social. A suspeita é de que o mandante tinha interesses comerciais e queria evitar que o poder público inviabilizasse a construção de imóveis de alto padrão.
A delação de Ronnie Lessa foi fechada após uma série de depoimentos amplamente documentados em áudio e vídeo. As conversas ocorreram no presídio federal de Campo Grande, onde o acusado de assassinar Marielle Franco cumpre pena. Nelas ele entregou nome de quem mandou matar a vereadora. De acordo com sua delação, os mandantes integram um grupo político poderoso no Rio de Janeiro, com vários interesses em diversos setores do estado. O ex-PM deu detalhes de encontros com eles e indícios sobre as motivações. E tudo passou a ser verificado pela força tarefa de policiais e membros do Ministério Público.
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Ronnie Lessa está em cela isolada na penitenciária federal de Campo Grande (MS). Foi lá, em agosto de 2023, que ele tomou conhecimento de que Élcio de Queiroz, que dirigia o carro usado no atentado, estava colaborando com a investigação da Polícia Federal e do Ministério Público do Rio. Lessa ouviu dos investigadores tudo que Élcio disse sobre a participação dele na execução do plano de morte de Marielle. O ex-PM percebeu que não fazia mais sentido segurar tudo sozinho e decidiu falar também. Diligências ainda estão em curso para fechar de vez a investigação e atribuir criminalmente responsabilidades sobre o mando da morte de Marielle Franco e de Anderson Gomes.