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Hospital público torna-se recordista em partos normais no Rio

Apostando no atendimento humanizado, a Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda dispõe de seis salas de parto que impressionam pela estrutura

Por Sofia Cerqueira
Atualizado em 11 Maio 2018, 09h42 - Publicado em 11 Maio 2018, 09h42
Da UTI ao quarto: para estimular o vínculo precoce entre mãe e filho, o hospital não tem berçário (Felipe Fittipaldi/Veja Rio)
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A chegada do bebê real no último dia 23, o terceiro filho de Kate Middleton e do príncipe William, deu o que falar mundo afora. E não foi só pela demora do anúncio do nome do quinto herdeiro na linha de sucessão da coroa britânica, Louis Arthur Charles. O fato de a duquesa de Cambridge ter surgido impecável com o menino no colo, deixando o hospital sete horas após dar à luz, gerou uma enxurrada ainda maior de comentários. Graças à alta incidência de partos normais, a rapidez em voltar para casa, no entanto, é comum no Reino Unido tanto para membros da realeza quanto para plebeias. Por aqui, o prazo mínimo para a liberação de mãe e filho costuma ser de 24 a 48 horas, e as cesáreas são responsáveis pela maioria dos nascimentos. Um hospital da rede municipal carioca, porém, chama atenção por estar na contramão dessas estatísticas. Referência no atendimento humanizado à gestante, a Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda, no Centro, é a recordista em partos normais da cidade. Dos 5 939 nascimentos ocorridos no local em 2017, 72% deles não implicaram intervenção cirúrgica. Alinhadas às recomendações da Organização Mundial da Saúde, as seis salas de parto impressionam pela estrutura. Além de um chuveirão com água morna para aliviar a dor no pré-parto, as grávidas têm acesso a bolas suíças para relaxar — iguais às utilizadas em academias — e a vários tipos de cadeira usados no momento de parir. O ambiente pode ficar na penumbra, com música e recursos como aromaterapia, e a equipe é treinada para aplicar massagens que reduzem o desconforto lombar. “A proposta é ser o menos intervencionista possível na assistência ao nascimento, mas sem abrir mão da segurança”, diz o diretor-médico da unidade, Wallace Mendes da Silva.

Hospital Maria Amelia
O diretor Wallace Mendes da Silva: menos intervenção, sem abrir mão da segurança (Felipe Fittipaldi/Veja Rio)

Instalada em um prédio de quatro andares, a maternidade também é referência em gravidez de alto risco. Aberta há seis anos, recebe grávidas que apresentam alguma doença ou anomalia fetal. Além do pré-natal voltado para esses casos, conta com um ambulatório que acompanha por um ano os bebês prematuros. Sua estrutura, diferentemente da de casas de saúde privadas, não inclui berçário. Fora as crianças que precisam de atenção especial, que vão para a UTI ou Unidade Intermediária, a proposta é que os recém-nascidos fiquem junto da mãe. Além do estímulo ao vínculo precoce, dados de performance sobressaem: a ocorrência de episiotomia — incisão feita na região do períneo — fica em apenas 3% e a taxa de infecção cirúrgica não supera 2,5%. Embora seja referência para grávidas vindas de postos de saúde do Centro e da Maré, a maternidade recebe mulheres em trabalho de parto de todo o Rio, muitas com condições de pagar por um atendimento particular. Foi o caso da atriz e diretora de cinema Ana Luiza Veiga, 35 anos, que deu à luz há oito meses. A ideia inicial era ter a filha num hospital privado, mas ela mudou seus planos quando a bolsa se rompeu, aos seis meses de gestação, e sua médica estava viajando. Decidiu então recorrer àquela unidade, onde a pequena Maryah nasceu, em 19 de agosto, com 1,3 quilo, e permaneceu 56 dias internada. Depois de passar pela UTI, a bebê, que só precisava ganhar peso, pôde ficar no Alojamento Canguru, uma ala na qual a mãe se interna voluntariamente para estar junto do filho 24 horas. “Era um looping de emoções. Conheci seres humanos incríveis e histórias fantásticas, como a de uma adolescente que contraiu HIV na primeira relação”, conta. A experiência foi tão intensa que Ana Luiza, sócia da produtora YA!, fará um filme sobre a maternidade.

Hospital Maria Amelia
Parto prematuro: Ana Luiza Veiga ficou 56 dias com a filha na maternidade (Felipe Fittipaldi/Veja Rio)

De acordo com a OMS, 140 milhões de nascimentos ocorrem anualmente no mundo. O Brasil tem a segunda maior incidência de cesarianas, atrás apenas da República Dominicana. Enquanto na Europa a taxa é de 25% e nos Estados Unidos, de 32%, aqui esse índice fica em 55% nos hospitais públicos, subindo para 80% na rede privada. Mesmo reconhecida por realizar um trabalho de assistência adequado ao parto, a Maria Amélia foi alvo de denúncias, em 2013, de parte de um grupo de mulheres que perderam o filho na unidade. Com uma a taxa de mortalidade neonatal igual à média da rede municipal — 7,3 para cada 1 000 nascidos vivos —, a maternidade comprovou que os óbitos ocorreram por fatores diversos e não por negligência. “Não fazemos um parto normal a qualquer custo. A paciente é acompanhada por uma equipe pronta para agir diante de qualquer sinal de complicação”, afirma o diretor Wallace. Caso seja desejo da gestante, ela pode receber analgesia e, após ouvir explicações sobre as vantagens de um parto sem cirurgia, pode inclusive optar pela cesárea. Foi justamente o fato de a unidade respeitar o plano de parto da mãe que levou a estudante Sawara Pecinalli, 24 anos, a ter lá sua filha, Chiara, em setembro passado. Ela se submeteu a uma versão cefálica externa (VCE), manobra que ajuda o bebê a se encaixar na posição adequada, com uma obstetra da Maria Amélia. Seu parto contou com profissionais dali e uma doula contratada à parte. “Além de respeitar a mãe, a maternidade tem estrutura e profissionais que não perdem em nada para os hospitais particulares”, elogia Sawara, que, a partir da sua experiência, criou o blog Maternando na Real.

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